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I Co 5:27

" Aquele que esta em Cristo, nova criatura é, as coisas velhas se passaram e eis que tudo se fez novo "


quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

***EX -MÉDIUM HOJE EVANGÉLICO ***

Na década de 90 os celulares começaram a se popularizar, eu nunca achei graça naquilo, até que um dia o meu professor da quarta-série apareceu com um Motorolla na cintura. Toda turma ficou maravilhada com aquela obra concreta da tecnologia pós-moderna.

Um dia, por coincidência, o celular do professor tocou em plena sala. Uma canção chamada city bird ecoou na minha cabeça, senti náuseas, tudo rodou, vomitei e acordei na enfermaria, me notificaram que eu sofrera um ataque. Depois daquele dia passei a evitar aparelhos celulares.

Sempre que eu chegava perto de um aparelho, me sentia estranho, só de chegar perto eu ficava zonzo, como se ouviesse vozes me chamando, umas vozes abafadas. Disse que ouvia vozes quando me aproximava dos aparelhos e fui motivo de zombaria. Diziam que era tudo coisa da minha cabeça e que era para procurar um psiquiatra. Só me restou recorrer ao meu avô, um médium conceituado num dos maiores centro espíritas da região, a temível Casa da Vovó Conga de Angola. Ele me disse que isso não é um problema, na verdade é um "dom" que só grandes médiuns tem. Que eu estava conectado com o mundo espiritual.

Passei a meditar todo sabado com meu celular colado em minha testa com a ajuda de uma fita isolante. A cada meditação eu me sentia melhor, na primeira eu já estava menos zonzo, na segunda começei a ouvir umas vozes abafadas, e já na terceira percebi que essas vozes eram de pessoas conversando entre si, as ligações dos celulares. Meses depois eu fui aperfeiçoando minha mediunidade, e consegui me conectar à uma rede maior ainda, a World Wide Web, através da rede 3G.

Num fechar de olhos eu acessava pornotube, wikipedia, orkut, youtube, msn, etc; Também mandava e-mails pra galera, como se eu fosse um computador ambulante. Melhor de tudo nesse poder meu é que eu podia tirar notas boas sem estudar, era só pesquisar no google, foi assim que passei no vestibular. O unico problema é que eu ficava com uma especie de ressaca depois que ficava muito tempo "navegando", eu nem ligava pra isso.

Depois que me formei na faculdade, com o auxílio dos meus poderes mediúnicos resolvi prestar um concurso público. Fiz minha inscrição e não estudei nada, afinal de contas, com meus poderes, uma rápida pesquisa no google e eu encontrava resposta para todas as questões.

Cheguei no local da prova confiante, sentei na minha cadeira e segurei meu celular com a mão esquerda, no que fui informado pelo filho da puta do fiscal de que eu precisava guardar meu celular e relógio numa sacolinha, além disso eu não podia usar meu boné Von Dutche durante a prova. Fiquei muito nervoso, não havia estudado nada. Pedi licença para ir ao banheiro antes do início e ele disse pra eu me apressar, pois só restava cinco minutos para o início da avaliação.

Cheguei no banheiro suando bicas. Como faria agora? Sem contato com o celular eu não conseguia acessar a internet. Eu precisava pensar rápido. Minha única saída foi inserir o aparelho no meu ânus. Com auxílio de um sabonete líquido o coloquei rapidamente, doeu mas não havia outra alternativa. Voltei pra sala e me sentei, sentindo um incômodo muito grande.

Comecei a fazer a prova, cada questão era resolvida facilmente, bastava uma pesquisa. Com certeza eu seria aprovado e desfrutaria de um gordo salário, que me possibilitaria comprar um bom carro para pegar mulher.

Terminei a prova, faltavam apenas 15 minutos para liberarem a saída dos alunos. Eu só queria ir pra casa retirar aquele incômodo iPhone. De repente, uma ligação. O celular tocava a música Borboletas, da dupla Victor e Léo, e a vibração me fez levantar abruptamente. O fiscal me deu a triste notícia da minha desclassificação. Saí da sala correndo, em prantos. Montei em minha Honda Biz e saí muito abalado, chorando e soluçando.

Elevei a rotação do motor à enésima potência, os 12 mil giros por minuto imprimiam na motoneta uma velocidade altíssima, que se aproximava dos 100km/hora. Por estar emocionalmente abalado, não vi o coletivo Volvo que estava em minha frente e bati à toda. Meu corpo foi lançado por cima de um muro num terreno baldio, fiquei imóvel, todo quebrado. Fiquei lá por mais de uma hora, ainda consciente, mas não conseguia gritar para que me achassem. Usei minhas últimas forças para me utilizar de meus poderes espirituais e discar para o 194 e requisitar o auxílio dos bombeiros.

Fui internado na Unidade de Tratamento Intesivos. Felizmente só quebrei a perna, três costelas, uma clavícula e perdi a omoplata esquerda. Duas semanas depois me recobrei do coma induzido e pude conversar com meus pais. Contei tudo o que havia ocorrido, tentei explicar o porquê de terem achado um celular no cólon do intestino, mas eles não compreenderam de início.

Durante minha recuperação no hospital conheci o pastor Abimael, que se recuperava de uma cirurgia de retiradas de amígdalas. Como ele estava sem poder falar, nos comunicamos por telepatia, ele me disse das coisas de Deus e me encheu de palavras belas e sublimes. Neste dia pude perceber que desperdiçava meus dons com trapaças e malandragem.

Hoje fui convertido e sou conhecido como o Pastor do Celular, ministro cultos na Igreja Internacional todas as sexta-feira e hoje sou um vencedor em Cristo.

Pastor do Celular.

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